Este é um filme romântico. É uma paráfrase moderna e oriental dos contos de fadas. Antes de tudo isso é um filme precursor; um grande impulso que me levou para além da esfera do sentimento e da experiência poética. Ele instiga tantas efeitos sensoriais que eu imaginei sentir o cheiro e o gosto do papaia.
Em mim, representa um reencontro com o diretor. Do primeiro filme até este, tem cinco anos. O primeiro, Luzes de um Verão, marcou uma incapacidade de entender o ponto de vista oriental sobre o mundo, sobretudo, do mundo moderno em contraste com a tradição. Mas eu era um calouro de Letras nesta época, que passava a maior parte do tempo sonhando e lendo Assim Falou Zaratustra, como uma forma de autopunição, do que vivendo. Apesar da idade, o filme ajudou a treinar meus olhos que tinham sido habituados a uma perspectiva dominante de cinema.
O fundamental do Cheiro de Papaia Verde são os planos-sequências longos - que constroem as cenas por entre minudências de janelas, corredores incertos e cômodos adornados - que eram pra mim o que um indivíduo benevolente é para um cego em meio à multidão. Eles pegavam em minha mão e me conduziam a um ponto qualquer descrevendo todas as coisas que viam. Mas para meu imaginário pueril e iludido, nada portava sentido, embora estivessem todas as coisas em aparente perfeita concatenação, naquele mundo tão ingênuo quanto eu. Neste tipo de cinema, tão avesso a minha verossimilhança, me deu a oportunidade, também, de encarar outra maneira de história, de viver. Embora a protagonista tenha passado a vida refugiando-se na densidade verdejante da natureza, tal qual um Rousseau no fim do seu tempo, não sobra nela nenhum sentimento de escapismo, nenhum sentimento de perseguição ou vitimização; mesmo porque, vez ou outra, os sons da guerra do Vietnã interrompiam o estalar dos legumes que fritavam ou os coaxares dos sapos nas bromélias.
A dialética do sentimento é um elemento que perpassa as linhas e as cenas. Em um momento são sobrecarregadas de acontecimentos velozes e que parecem injetar um vazio de entendimento. Em outros, incorporam um sentimentalismo e espiritualismo que procuram abarcar uma amplitude relutente daquele mundo às avessas. As metáforas atingem o alvo, são frequentemente irônicas, mas podem permanecer ocas e opacas se você quiser. Porque nada é capricho e malsucedido neste filme.
O Cheiro do Papaia Verde
(Mùi du du xanh - L'odeur de la papaye verte, Vietnã, França, 1993)
104 Minutos
Diretor:
esse filme me parecia muito bom, até a parte em que eu dormi e não vi o final!
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