uma trágica história de amor luso-brasileira

Eu sou misantropo. O que faço geralmente é mal direcionado e irresponsável e quando desvio do assunto sou mais eficaz do que quando falo sobre ele. Provavelmente nunca mais verei muitas das pessoas que conheci aqui em Portugal. Mas não é certo. Por causa das minhas muitas ações eu cometo muitos erros. E repito.
Mas me tornei complacente. E isso foi possível pelo fato de ver as instituições mais delineadas aqui do que no Brasil. E esta aparência permitiu que eu enxergasse uma realidade menos dilacerada, o que torna os problemas fundamentais da civilização bem claros.
Antes o meu problema pessoal, depois o problema ocidental e também a solução para a manutenção da natureza contingente.
Essencialmente eu entrego o legado à cultura judaico-cristã. Mas não excluo, separadamente, a democracia. São concomitantes. Eu falo da culpa, o nosso legado. Quando eu te conheci, larguei-me o tanto quanto achei que pudesse fazer. Mas minha propensão por estragar as coisas foi maior do que a que faz as coisas darem certo.
Em alguma altura as duas linhas de tensão cruzaram-se e perdeu-se tudo. Conseguimos sobreviver depois de nos sentirmos culpados ou, mais facilmente, embora menos verdadeiro, quando conseguimos culpar um ao outro.
Somos todos culpados?
Estamos aqui sem saber nada. Sem saber o que queremos. Eu duvido que exista alguém que queira alguma coisa real.
Não existe culpa.
Nunca sabemos certamente se podemos confiar ou se poderão confiar em nós. Não existe destino e isso é tão óbvio, tão claro, tão veemente que se torna impossível de admitir.
Eu preferiria usar argumentos do que afirmações eloquentes. Mas subestimar o poder de apreenção me ajuda muito mais.
Embora se possa dizer que foi uma trágica história de amor, como todas, o começo foi bom.
Se essa história pudesse continuar para além de hoje, e quem pode saber a total extensão, ela fatalmente terminaria.
Há uma única e incontestável verdade. A eminência da morte.
Lutamos para renegar, mas a natureza do universo é sentir. Ter sentimentos divinos, como o de culpa, nos reconforta. Somos a imagem e semelhança de Deus.
Deus é culpado.
Perdoe-me, portanto, perdoe-me minha eterna frustração.

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