Paris



Eu já havia me convencido que minha participação no Thescontrolados seria cada vez mais difícil com o passar do tempo já que a nossa ideia era relatar os acontecimentos de nossa aventura. Além disso, já não compartilho mais das angústias e experiências que meus amigos têm passado. Mesmo assim, há algum tempo me pegava pensando no que escreveria aqui e ia seguindo como espectadora.
Mas um dia, eu estava ocupada, lavando louça, descalça, com os cabelos presos em um nó. Momentos nos quais essas coisas geralmente não passam pelas nossas cabeças, mas realizei um momento muito importante da minha viagem e achei que fosse um bom modo de me reapresentar como Thescontrolada.
Ainda me lembro como se fosse hoje, eu em um ônibus, sentada ao lado de um espanhol que devia ter 12 anos e pensando, frustrada, que não havia magia alguma em Paris. Foi nessa hora que ela apareceu, majestosa e discreta, pequenininha, bem ao longe. Era a Torre Eifell. Na mesma hora, chamei a atenção do meu vizinho de viagem – mal nos tínhamos olhado até aquele momento – e apontei. Ele olhou, sorriu e começou a fotografá-la enquanto ela crescia a nossa frente.
A partir deste momento, a magia tomou conta de mim. Já não sentia frio, já não estava mais com medo – sozinha, em um país diferente, com a pressão de testar meus quatro anos e meio de estudos da língua francesa! Na verdade, o que eu sentia a partir daquele momento eram os sons graves do Metropolitain, a forma como até os rapazes dançando hip hop pareciam mais elegantes, o romance dos casais... Paris não se conhece, se experimenta.
É uma mistura louca e sinestésica, na qual mitos e sentidos parecem se complementar. É o cheiro, é o som, é o vento gelado no Montmartre, é a beleza que se muda para seus olhos e até na cena mais triste, você pode perceber um brilho diferente.
Fiquei pensando e recordando. Larguei a louça meio-lavada na pia e fui olhar as fotos. Já não tinha mais consciência do meu quarto, do computador. Eu havia me transformado nas minhas lembranças. Acho que é isso que a cidade luz faz com a gente: Você não vai a Paris, você se torna Paris.



PS: A foto ali de cima foi tirada na Ponte Alexandre III e foi escolhida pelo Wendel =D 

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