
A Guernica de Picasso não tem nada a ver com a guerra. Eu estava diante dela no dia 11 de maio de 2009 e tentei por 30 ou 40 minutos decifrar algum aspecto ou fotografar com meus olhos alguma parte. Sentia-me cada vez mais estúpido por estar a frente daquilo e não saber exatamente nada sobre arte, em apenas lembrar das aulas de literatura no colegial ou na faculdade e ouvir os tão leigos professores - que provavelmente nunca estiveram diante da tela - a repetir que aquela era a obra do nosso século, que representava isso ou aquilo na História, que éramos pequenos e incultos demais para dimensionar a grandeza ou a sua importância.
Obviamente não tive sucesso e não consegui nada em meu empreendimento, a não ser sair desolado por não ter o que dizer a todos que poderiam me perguntar qual era a sensação de ficar diante dela e certamente ter de narrar um monte de fatos e imaginar inúmeras coisas para não ser motivo de chacota ou deboche.
Sei que, como eu, os que lá estavam iam dizer que sentiram isso ou aquilo. O clima propício de museu, a posição da sala na extremidade, que deixa pra atrás Dali, Miró, Velazquez, Goya, Sorolla, Gaudi e mesmo Picasso; os guardas atentos a qualquer movimentação de câmeras fotográficas, celulares ou aproximação de pessoas, o olhar atônito de inúmeros turistas, o cheiro incólume, tudo isso e outras coisas que ignoro, são suficiente para suscitar vários sentimentos indescritíveis ou nos fazer imaginar que estamos sendo tomados por algo tão grande que seja impossível ao menos tentar compreender. Posso afirmar que mesmo um leigo, diante da tela, ficaria abismado com as medidas, com as figuras amontoadas - que mesmo hoje parecem vanguardistas - com a força das pinceladas ou com a intensidade que o artista infundiu naquilo.
Mas eu não conseguia ver a guerra, não conseguia ver o horror dela, mesmo que o mais próximo que eu tenha estado de uma foi nas telas do cinema.
Eu pensei, no começo, que devia se tratar do fato da pintura cubista ser tão inverossímil, tão hermética ou na dianteira das outras épocas. E é exatamente o que ela é. Ela marca uma época, mas ela perde a efusão lírica. Não há mesmo. Ela é problemática, ideológica. É algo mais próximo de uma fotografia com problemas na revelação, com sobreposições de outros filmes ou defeitos. Há partes de um homem espalhadas, uma mulher grávida a implorar por sobrevivência, outra incinerada com braços erguidos, casas em chama, tudo isso geometricamente, como convém. É uma descrição simplória, eu sei. Ela é caótica, óbvio. É a civilização. Não creio que seja a desumanização retratada, como nossos manuais nos dizem. Não é um retrato de guerra. E é genial aos meus olhos.
Mas sobre o que nos contam, no fim, é uma tela que demanda fé. Deve estar no mesmo limiar meta ficcional do Diário de Anne Frank. Mas preste atenção, isso não se trata de uma comparação entre obras. O que quero dizer é que é mentiroso, é uma farsa que vem sendo repetida de maneira fastidiosa por 70 anos. Provas históricas, que durante todos esses anos historiadores trazem à tona com intuito de desmistificar esta obra, não a impediram de tornar-se um símbolo importante da sociedade moderna pós segunda guerra.
A tela leva o nome da pequena Cidade Basca que sofreu uma catástrofe em abril de 1937, mas o quadro foi pintado antes desta data, como aponta o historiador inglês David Irving¹. A Guernica poderia ser ode a milhões de coisas, olhe atentamente pra ela apenas uma vez. Pode ser um retrato violento sobre as drogas no corpo humano, pode ser a denúncia da violência urbana, pode ser apenas a modernidade, o retrato de trabalhados dilacerados pelo sistema e pelo cotidiano, pode ser, afinal, um retrato típico de uma corrente de touros. Pode ser o que quisermos que ela seja. Picasso, provavelmente a batizou (ou re-batizou) de Guernica, pois viu nela algo que pudesse imortaliza-lo. Simplesmente, é provável também, que tenha querido adaptar-se às exigências políticas ou ideológicas de amigos, da imprensa mundial. Talvez tenha pressentido premonitoriamente - o que as evidências contextuais permitiam - que aquela tela viria servir de retrato para outras populações que na mesma década e na posterior iam ter despejado sobre suas cabeças fogo, dor e morte e não apenas uma corrida de touros que poderia coloca-la no fundo de algum museu empoeirado ou nem isso.
Não é consensual, nem mesmo na História, o bombardeio da cidade. É certeza nisto tudo, que a mão de marxistas iniciou uma longa jornada de narrações que pudessem favorece-los. Há muito mais nesta história do que o Museo Reina Sofia - Madrid, onde está exposta a tela, pode nos passar. Com fotos da Unidet Press Internacional e vídeos que chegam até a guerra Civil Espanhola e todos os registros de jornais e revistas da época, os curadores do museu, o governo espanhol, a civilização ocidental, tentam preservar isso, tentam preservar o repúdio ao totalitarismo sanguinário nazi-fascista.
Afinal, o que acontece com outras obras de artes, (como a Bíblia, por exemplo) é o que as instituições que estão por trás de todo o comportamento da civilização conseguem incutir no discurso e na linguagem.
A maior evolução na humanidade, para mim, foi a escrita. A partir daí tudo aquilo que antes era passado oralmente de geração a geração ou em enigmáticos desenhos em pedras, pode ser registrado. É sem dúvida a maior tecnologia já inventada. A linguagem permite que as coisas existam, a escrita permite que as coisas sejam eternizadas. Eternizar significa poder. Todos querem o poder.
A Guernica, de Picasso, é uma obra, uma invenção tão grande quanto a linguagem, por isso genial; mas ela só serve, verdadeiramente, para uma pessoa, para seu criador.
Pro resto do mundo ela também pode ser o retrato atual de Madrid. Eu vejo nela todos os chineses, negros, brasileiros, mexicanos, árabes. Eu vejo ali o olho daquela menina, rasgado geometricamente, ao me oferecer uma cerveja por 4 euros e então se esconder atrás dos carros enquanto a polícia passa. Vejo aquele chinês da "cama caliente" que se misturou na multidão em fila para consumir, quando a polícia se aproximou. Vejo os árabes com braços estendidos para cima - essa parte está no canto esquerdo da tela. Vejo os negros todos juntos. Os mexicanos... Está tudo ali, na Guernica. A Anne Frank também. Os gays...
¹historiador inglês David Irving, em sua obra Hermann Goering, a Biography, (MacMillan, NY, 1989, p. 178)
"GUERNICA" é um óleo sobre tela de autoria de' Pablo Picasso', datado de 1937. Foi executado para o pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris. O painel tem as dimensões de 350 x 782 cm. Encontra-se atualmente exposto no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.
http://www.museoreinasofia.es/
Obviamente não tive sucesso e não consegui nada em meu empreendimento, a não ser sair desolado por não ter o que dizer a todos que poderiam me perguntar qual era a sensação de ficar diante dela e certamente ter de narrar um monte de fatos e imaginar inúmeras coisas para não ser motivo de chacota ou deboche.
Sei que, como eu, os que lá estavam iam dizer que sentiram isso ou aquilo. O clima propício de museu, a posição da sala na extremidade, que deixa pra atrás Dali, Miró, Velazquez, Goya, Sorolla, Gaudi e mesmo Picasso; os guardas atentos a qualquer movimentação de câmeras fotográficas, celulares ou aproximação de pessoas, o olhar atônito de inúmeros turistas, o cheiro incólume, tudo isso e outras coisas que ignoro, são suficiente para suscitar vários sentimentos indescritíveis ou nos fazer imaginar que estamos sendo tomados por algo tão grande que seja impossível ao menos tentar compreender. Posso afirmar que mesmo um leigo, diante da tela, ficaria abismado com as medidas, com as figuras amontoadas - que mesmo hoje parecem vanguardistas - com a força das pinceladas ou com a intensidade que o artista infundiu naquilo.
Mas eu não conseguia ver a guerra, não conseguia ver o horror dela, mesmo que o mais próximo que eu tenha estado de uma foi nas telas do cinema.
Eu pensei, no começo, que devia se tratar do fato da pintura cubista ser tão inverossímil, tão hermética ou na dianteira das outras épocas. E é exatamente o que ela é. Ela marca uma época, mas ela perde a efusão lírica. Não há mesmo. Ela é problemática, ideológica. É algo mais próximo de uma fotografia com problemas na revelação, com sobreposições de outros filmes ou defeitos. Há partes de um homem espalhadas, uma mulher grávida a implorar por sobrevivência, outra incinerada com braços erguidos, casas em chama, tudo isso geometricamente, como convém. É uma descrição simplória, eu sei. Ela é caótica, óbvio. É a civilização. Não creio que seja a desumanização retratada, como nossos manuais nos dizem. Não é um retrato de guerra. E é genial aos meus olhos.
Mas sobre o que nos contam, no fim, é uma tela que demanda fé. Deve estar no mesmo limiar meta ficcional do Diário de Anne Frank. Mas preste atenção, isso não se trata de uma comparação entre obras. O que quero dizer é que é mentiroso, é uma farsa que vem sendo repetida de maneira fastidiosa por 70 anos. Provas históricas, que durante todos esses anos historiadores trazem à tona com intuito de desmistificar esta obra, não a impediram de tornar-se um símbolo importante da sociedade moderna pós segunda guerra.
A tela leva o nome da pequena Cidade Basca que sofreu uma catástrofe em abril de 1937, mas o quadro foi pintado antes desta data, como aponta o historiador inglês David Irving¹. A Guernica poderia ser ode a milhões de coisas, olhe atentamente pra ela apenas uma vez. Pode ser um retrato violento sobre as drogas no corpo humano, pode ser a denúncia da violência urbana, pode ser apenas a modernidade, o retrato de trabalhados dilacerados pelo sistema e pelo cotidiano, pode ser, afinal, um retrato típico de uma corrente de touros. Pode ser o que quisermos que ela seja. Picasso, provavelmente a batizou (ou re-batizou) de Guernica, pois viu nela algo que pudesse imortaliza-lo. Simplesmente, é provável também, que tenha querido adaptar-se às exigências políticas ou ideológicas de amigos, da imprensa mundial. Talvez tenha pressentido premonitoriamente - o que as evidências contextuais permitiam - que aquela tela viria servir de retrato para outras populações que na mesma década e na posterior iam ter despejado sobre suas cabeças fogo, dor e morte e não apenas uma corrida de touros que poderia coloca-la no fundo de algum museu empoeirado ou nem isso.
Não é consensual, nem mesmo na História, o bombardeio da cidade. É certeza nisto tudo, que a mão de marxistas iniciou uma longa jornada de narrações que pudessem favorece-los. Há muito mais nesta história do que o Museo Reina Sofia - Madrid, onde está exposta a tela, pode nos passar. Com fotos da Unidet Press Internacional e vídeos que chegam até a guerra Civil Espanhola e todos os registros de jornais e revistas da época, os curadores do museu, o governo espanhol, a civilização ocidental, tentam preservar isso, tentam preservar o repúdio ao totalitarismo sanguinário nazi-fascista.
Afinal, o que acontece com outras obras de artes, (como a Bíblia, por exemplo) é o que as instituições que estão por trás de todo o comportamento da civilização conseguem incutir no discurso e na linguagem.
A maior evolução na humanidade, para mim, foi a escrita. A partir daí tudo aquilo que antes era passado oralmente de geração a geração ou em enigmáticos desenhos em pedras, pode ser registrado. É sem dúvida a maior tecnologia já inventada. A linguagem permite que as coisas existam, a escrita permite que as coisas sejam eternizadas. Eternizar significa poder. Todos querem o poder.
A Guernica, de Picasso, é uma obra, uma invenção tão grande quanto a linguagem, por isso genial; mas ela só serve, verdadeiramente, para uma pessoa, para seu criador.
Pro resto do mundo ela também pode ser o retrato atual de Madrid. Eu vejo nela todos os chineses, negros, brasileiros, mexicanos, árabes. Eu vejo ali o olho daquela menina, rasgado geometricamente, ao me oferecer uma cerveja por 4 euros e então se esconder atrás dos carros enquanto a polícia passa. Vejo aquele chinês da "cama caliente" que se misturou na multidão em fila para consumir, quando a polícia se aproximou. Vejo os árabes com braços estendidos para cima - essa parte está no canto esquerdo da tela. Vejo os negros todos juntos. Os mexicanos... Está tudo ali, na Guernica. A Anne Frank também. Os gays...
¹historiador inglês David Irving, em sua obra Hermann Goering, a Biography, (MacMillan, NY, 1989, p. 178)
"GUERNICA" é um óleo sobre tela de autoria de' Pablo Picasso', datado de 1937. Foi executado para o pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris. O painel tem as dimensões de 350 x 782 cm. Encontra-se atualmente exposto no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.
http://www.museoreinasofia.es/
bem...
ResponderExcluirvc sabe dar um tapa bem dado, ne???
"A linguagem permite que as coisas existam, a escrita permite que as coisas sejam eternizadas."
ResponderExcluirmara ;]
a escrita é sim, a maior evolução. aprendi isso nas duas faculdades incompletas. aprendi nas aulas de história da arte tudo isso. sobre as guerras. sobre o cubismo. sobre cada um deles. e no fundo, nunca entendi nada muito bem.
ResponderExcluirera mais fácil colocar meu óculos de aro vermelho e fazer cara de intelecta.
muito bom.
quero muito a europa pra ver tudo de perto.
La Guernica, sempre foi para mim um desafeto. Talvez por não compreendê-la, talvez por achar Picasso pedante. Nunca consegui encará-la como um fato momentâneo da história, mas uma história dentro de histórias que se repetem eternamente, pois retrata a natureza do ser humano. As sobreposições, o cubismo, o vanguardismo apena me relatam a crueldade presente e atuante em toda humanidade. Existe uma "Guernica" aprisionada dentro de cada um de nós, disfome, pavorosa, mas presente.
ResponderExcluirPara falar de Picasso e da La Guernica, tem que conhecer toda sua obra, depois de conhecer sua evolução mostrada no Museo Picasso em Barcelona, sua opinião seguramente mudará.Aos 7 anos ele ja reproduzia classicos famosos. Uma obra não é só 0 que se ve,é o que se sente e o que se sente ter haver com sua experiencia de vida.
ResponderExcluirJair
sim tem ''a ver'' com fatos também... e interpretaçao
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