Embora os dois graus na madrugada, faltam ainda duas semanas para o inverno. O céu era de caramelo e estava morno. Às vezes, tinha correspondência. Hoje teve.
A encomenda que eu esperava, tal qual algodão doce, chegou. “O que faltava ao peixe”
Eu, envolto em lã e algodão, calçando borracha, pisquei várias vezes os olhos intrépidos. Sou assim. Caminhei na direção oposta. Estava comovido porque eu tinha esquecido esse sentimento de correspondência. Não foi carta que me chegou, não era notícia que eu esperava. Mas fiquei com bem-te-vi selvagem na boca.
Enquanto o prendia, pisei num cachecol vermelho. Sem querer, abri os lábios. O cachecol não era sozinho no mundo. Fiquei sem nada, mas ganhei um obrigado. Anoiteceu lá no morro. Logo logo ela ia chegar aqui. Eu fui olhando o cachecol vermelho ir embora. Teve barulho de carro de polícia. Começou a tamborilar uma fina garoa no paralelepípedo. Vesti luva. Vesti capacete, como se fosse elmo. Vesti casaco, como se fosse armadura. Vesti saudade, com se fosse escudo. Quis um dilúvio, quis um meteoro apocalíptico. Mas só veio lembrança perquiridora. Fiquei velando o cachecol que rodeava aquele pescoço, ele foi sumindo e já não era vermelho. Mas eis que chega a hora de partir. Eu, por aí, usando tricô da minha mãe, sem esperar por nada, mas no fundo a esperar por algo. "É cada vez mais tarde. É cada vez mais tarde".
A encomenda que eu esperava, tal qual algodão doce, chegou. “O que faltava ao peixe”
Eu, envolto em lã e algodão, calçando borracha, pisquei várias vezes os olhos intrépidos. Sou assim. Caminhei na direção oposta. Estava comovido porque eu tinha esquecido esse sentimento de correspondência. Não foi carta que me chegou, não era notícia que eu esperava. Mas fiquei com bem-te-vi selvagem na boca.
Enquanto o prendia, pisei num cachecol vermelho. Sem querer, abri os lábios. O cachecol não era sozinho no mundo. Fiquei sem nada, mas ganhei um obrigado. Anoiteceu lá no morro. Logo logo ela ia chegar aqui. Eu fui olhando o cachecol vermelho ir embora. Teve barulho de carro de polícia. Começou a tamborilar uma fina garoa no paralelepípedo. Vesti luva. Vesti capacete, como se fosse elmo. Vesti casaco, como se fosse armadura. Vesti saudade, com se fosse escudo. Quis um dilúvio, quis um meteoro apocalíptico. Mas só veio lembrança perquiridora. Fiquei velando o cachecol que rodeava aquele pescoço, ele foi sumindo e já não era vermelho. Mas eis que chega a hora de partir. Eu, por aí, usando tricô da minha mãe, sem esperar por nada, mas no fundo a esperar por algo. "É cada vez mais tarde. É cada vez mais tarde".
Bonito o texto. Algumas dessas palavras não me são estranhas. : ) Não sabia que a Bravo! andava aí pelo Porto, que legal. Abraço, Ana Santos.
ResponderExcluirnão sofro de angústia da influência! seu eufemismo é inválido, uma vez que nenhum autor seria idiota o bastante para colocar a referência da cópia no próprio texto. Minha ação não foi deliberada; por isso, como autor, fico decepcionado, pois obviamente quem lê meus textos não entende nada.
ResponderExcluirNão tive a mínima intenção de ser hostil (ou eufêmica). Achei legal, de verdade, ver que meus textos inspiraram a escrita de outro texto. Encontrei-o por acaso e quis manifestar minha surpresa/alegria. Ao que parece, não o fiz de forma muito efetiva.
ResponderExcluirTambém não quis ser hostil Ana Santos... será você Ana Santos, msm?
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