Volto a escrever no
Thescontrolados não somente pelo fato de vir ensaiando este retorno há tempo,
mas porque preciso.
Não me parece ser a primeira vez
a dizer isto, mas escrever é algo, desde que eu aprendi a fazer, apaziguador.
Eu sei o que me fez deixar de
lado este hábito. Na verdade, foi difícil estar aqui. O caminho percorrido até
hoje e o momento que deixei de escrever talvez tenha sido o mais tortuoso,
íngreme, fechado. Uma sequência de fatos somados me arrancou do hábito. Foi
vertiginoso, catastrófico, dramático. Há menos de um ano e meio eu estava
completamente perdido. Tinha me formado, tinha todos os planos traçados, mas
subitamente, literalmente da noite para o dia, as coisas mudaram. Vim a um
lugar novo, embrutecido pela dor e pelo sentimento de ódio, de vingança. Hoje sou levado a concordar que estes
sentimentos catalisaram minhas ações. Não consigo me recordar de ter sido tão
influenciado antes. No entanto, paulatinamente,
o cotidiano foi me afastando disto. Muito raramente eu me lembrava,”estou aqui
hoje por causa...”. O fato é que a vida é tão rápida e monstruosa.
Eu fiquei acuado, fragilizado. Mas na minha porta batia todos os dias e ainda
bate um minotauro novo. Nenhum dia não é um labirinto.
Ainda há muito a se fazer,
muitíssimo. Sinto estar muito fora da estrada, em algum atalho ou caminho
alternativo. Meu diploma está inutilizado. Larguei a imaculada profissão de
professor e me tornei um homem engravatado, que ganha o seu pão no coração da
cidade, dentro de um escritório branco, cadeiras pretas, papéis, telefonemas,
elevadores, ar condicionado. Odeio a gravata. Só compensa a vista da minha
sala, o cheiro do mar a tarde, as luzes da cidade vistas de cima a noite.
Queria ser professor. Fui
chamado, depois de um ano. Financeiramente não é o que eu quero mais. Continuam
insistindo, mas não estou preparado para deixar tudo e voltar assim. O meu
objetivo era este, era o que eu imaginava. Ainda sou professor, na verdade.
Corrijo todas as redações de uma escola e dou aulas em alguns fins de semana. É
como um hobbie, confesso; suspeito que talvez seja um ensaio para um retorno,
mais tarde.
Vista da minha sala
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